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terça-feira, 13 de julho de 2010

Voluntários são os olhos dos deficientes visuais para auxilio nos estudos

Matéria publicada na Revista Plano Brasília - Ed. 68, abril/2010

Criado há mais dez anos, o Clube do Ledor é uma ótima opção para quem pensa em ajudar quem precisa através do serviço voluntário. E quem já participa garante que vale a pena

Por: Juliana Mendes

“Quando temos vontade mesmo, tempo a gente arruma. Às vezes falamos: ‘mas eu só tenho uma hora’. Junta essa hora que eu posso, com uma que você pode e uma que o outro pode já serão três horas para ajudarmos. E isso faz a diferença”, palavras de Fausta Cristina Panquestor, que há um mês e meio doa um pouco do seu tempo para o trabalho voluntário no Clube do Ledor.
O Clube do Ledor foi criado pela Associação de Amigos dos Deficientes Visuais (AADV), para ser um auxilio. É formado por voluntários que lêem para os deficientes, os ajudam a estudar para matérias escolares, vestibulares e concursos públicos. Além de gravarem livros em áudio para o acervo da biblioteca do Centro de Ensino Especial, onde funciona o projeto.
Atualmente existem mais de 250 voluntários cadastrados, mas cerca de 30 participam. Os mais ativos são da faixa etária de 30 a 60 anos, mas também há um público jovem muito dedicado. São aposentados, estudantes, donas de casa, além de profissionais formados como advogados, juizes, jornalistas e professores que ajudam nas matérias específicas para concursos públicos.
Para Thuanne Carolini de Souza, que começou a frequentar o Clube do Ledor ano passado e há um mês conta com o auxilio de Fausta, a ajuda que começou com voluntários em Uberlândia, Minas Gerais, e que encontrou quando chegou a Brasília foi imprescindível para a boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e para a conquista de uma vaga no curso de serviço social da Universidade Católica de Brasília. “Nem todos os livros são traduzidos para o braille, então a ajuda é muito grande para as leituras. Uso livros em áudio, mas prefiro o acompanhamento do voluntário porque às vezes ele entende melhor um assunto e pode me passar com mais clareza”, diz.
Segundo uma das professoras responsáveis pela biblioteca, Ana Consuelo Moreira, o Clube do Ledor é aberto para deficientes visuais residentes em Brasília e entorno, que cursam o ensino fundamental, médio e superior de instituições públicas ou privadas, ou que estejam se preparando para provas de concursos e vestibulares. Segundo controle da biblioteca é registrado por dia uma média de dez atendimentos, sendo o funcionamento de segunda a sexta das 08h às 17h.
E é crescente o número de deficientes visuais em busca de uma vaga no serviço público, e para eles o Clube do Ledor preparou atendimento especial. Todas terças e quintas foi montado um cronograma para estudo em grupo, com revezamento de voluntários para auxiliá-los em matérias próprias para essas provas como lógica, direito, português e noções de informática.
A expectativa é que ultrapasse o resultado de 2009 em que mais de 40 foram aprovados em provas de concurso e 35 de vestibular. Para Consuelo é uma vitória não só para os alunos, mas para todos que colaboram para o sucesso deles. “Tem voluntário que se emociona. Quando eles chegam pra mim e falam: ‘Consuelo agora eu sou servidor público’, eu também fico muito emocionada”, conta, sem disfarçar a emoção.
E é por essas vitórias que os responsáveis lutam para que o projeto continue. Segundo a advogada Verônica Maria de Almeida Santos, que começou a atuar no projeto há apenas duas semanas, já sente que a ajuda é recompensada. Ela mais que ajuda, estuda legislação junto com Ana Márcia Pereira dos Santos que está em busca de uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Ana Márcia começou a frequentar o Clube do Ledor em 2006 para fazer faculdade de letras. As dificuldades foram muitas e hoje ela afirma que conseguiu graças ao auxilio dos voluntários do projeto e da disponibilidade do acervo da biblioteca.
Ana Márcia diz sentir que as pessoas ficam com receio em se aproximar para ajudá-los, muitas vezes por não saber como lidar com os deficientes visuais, e aconselha as pessoas a pensarem na importância desse trabalho. “A gente consegue alcançar objetivos que não conseguiríamos sozinhos. Os voluntários são nossos olhos”, finaliza em tom de agradecimento às voluntárias que já a ajudaram e hoje são suas amigas.
Para Consuelo, a ajuda dos voluntários é de extrema importância para o funcionamento do projeto, não só pelo auxilio direto aos alunos, mas também pelas doações de materiais para o acervo e para a estrutura da biblioteca, que também recebe livros normais e em braile, revistas e jornais da fundação Dorina Nowill, Instituto Benjamin Constant e órgãos do governo. Mas ainda há carência como dicionários e gramáticas atualizadas.
E para finalizar, a professora manda um recado para quem pensa em prestar algum serviço voluntário: “Estamos aqui de braços abertos esperando você. Tenho certeza de que quem vier não sairá mais porque é um trabalho muito gratificante. Apesar da simplicidade do local os alunos conquistam a gente. Por isso peço que quem tiver interesse nos procure na biblioteca do Centro de Ensino Especial de Deficientes visuais”.

Serviço:
Clube do Ledor
611/ 612 – L2 Sul
(61) 3345.1631

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